O poder da bolha criativa!

Nessa edição: o que é a bolha criativa e como instaurar a sua para criar com consistência e chegar ao final de projetos criativos?

Tenho sentido que o trabalho mais difícil não é criar... e sim, se manter 'motivado' pra criar. Criar é gostosinho, depois que a gente engata, não quer parar mais. Agora, ser consistente com a criação, essa é outra história. Encarar como hábito, mesmo quando a vontade parece secar. Mesmo quando o mundo parece desabar. E mesmo quando tudo ao nosso redor parece precisar mais da gente.

Parecido, por exemplo, com quem começa a se exercitar consistentemente. Você percebe que tem dias que não quer ir, mas vai mesmo assim. Vai tirando força do fiofó. Vai por algo maior. Vai porque colocou a saúde na base da sua pirâmide pessoal de prioridades. Vai de qualquer jeito. E, na real, nunca se arrepende.

A vida, os corres, os boletos, a saúde, a família, o trabalho do dia a dia, o 'tem que' podem fazer a gente achar que criar é supérfluo. Ou que tudo é mais importante e mais urgente do que isso. O time da criatividade começa quase sempre perdendo. O que lhe parece mais importante, assim de relance: escrever aquele romance de época baseado na Guerra dos Canudos ou mandar aquele relatório que seu chefe pediu na semana passada? Pintar um quadro ou cuidar da criança com febre? Claro que é cuidar da criança, eu sei.

Mas quando a gente ignora a expressão criativa que está pulsando na gente por muito tempo, uma parte da gente morre. E esse é o perigo. Então, é importante encontrar um jeito de, não só mandar o relatório e cuidar da criança, como também sentar para criar.

Nosso trabalho mais importante é manter a chama criativa acesa, sem quebrar a corrente. Mesmo que essa corrente seja semanal, por exemplo.

Pra isso, eu não conheço nada mais efetivo do que a bolha criativa. Sua proteção contra você mesma (e sua resistência), contra a “falta de tempo“ e contra o mundo lá fora. Ela é aquele senso de prioridade que define que existe um momento pra cuidar dos BO’s da vida, mas que também existe um momento pra criar. E que ele tão importante quanto.

Imagina essa redoma de vidro, onde você entra e, automaticamente, se vê numa espécie de vácuo. Aquele som do fundo do mar onde todo o resto parece distante. Lá ninguém te acha, as notificações não chegam até você e a voz da sua resistência ecoa baixinho, porque você a deixou do lado de fora. Na bolha você consegue criar por 1 ou 2 horas seguidas e consegue ver o termômetro da sua criatividade aumentando de temperatura. Dentro da sua bolha você consegue escrever, criar, pintar ou que quer que você faça. Lá dentro, você se vê empoderada, avançando em direção a um objetivo criativo maior, um dia de cada vez.

E olha, antes que você diga “mas eu não tenho tempo pra isso”, me deixa reforçar: a bolha serve pra qualquer pessoa. Pra você que trabalha com criatividade e tem 8 horas por dia para criar. E pra você que só consegue descolar 1 hora por semana, nas manhãs de sábado, pra se dedicar ao seu projeto criativo. É uma hora que consegue? É nessa uma hora que você cria.

Quer ver como a bolha funciona? Faça as contas com o pior cenário possível: você só tem 1 hora por semana pra criar, gerando 4,3 horas por mês, sendo 51 horas por ano. Se você tiver 2 horas por semana, já são mais de 100 horas de trabalho criativo e por aí vai… você entendeu onde quero chegar, né? Há muita criatividade depositada em 50 horas.

ChatGPT inclusive, me disse que dá pra escrever de 25 a 50 mil palavras com 50 horas, que poderiam resultar em um ou dois contos, mais de dois artigos científicos ou, pelo menos, 20 conteúdos para blogs. As duas perguntas mais importantes: quantas horas por semana essa sua versão criativa merece? E o que você vai criar com elas?

Entendeu onde quero chegar? Não importa onde você está hoje com a sua criatividade, ativar sua bolha criativa é o que vai te fazer avançar e chegar em uma obra pronta ao final de algumas boas sentadas. Com todo respeito.

Com instaurar sua bolha criativa!

Então, tá! Mas como faço isso? Como instauro essa tal bolha criativa para que eu consiga sentar pra fazer a tarefa criativa que me propus?

1. Reconheça a criatividade como uma prioridade: se esse passo não for alcançado, ficará muito difícil se comprometer com o restante. Aqui, você reconhece porque criar consistentemente é importante pra você e porque você quer isso. Que pessoa diferente você será se agir consistentemente na direção dos seus sonhos criativos?
   

2. Defina metas claras: estabeleça metas específicas e alcançáveis para o seu trabalho criativo, como concluir uma peça de arte, escrever o primeiro rascunho de um livro ou terminar aquele vídeo. Sem uma meta clara de onde é que você está depositando seu tempo, fica mais difícil criar motivação e disciplina pra criar. E ó, fique tranks, o projeto pode mudar ao longo do tempo, mas saber pra que estamos criando, nos ajuda a nos mantermos conectados com a tarefa.
   

3. Estabeleça uma rotina: defina um horário e local regulares para o seu trabalho criativo. O bloqueio na agenda ajuda a construir impulso e torna a criatividade um hábito. E eu sei, aqui você dirá que tem outro trabalho CLT, que é mãe de dois ou que está enfrentando um momento com pouco tempo. Eu imagino e me solidarizo. Não é fácil cavar espaço onde tudo já parece ocupado, mas é exatamente essa a diferença entre ter um livro escrito, um curta-metragem lançado ou um conjunto de obra do qual você se orgulha. Se isso for uma prioridade pra você (e talvez esse seja o grande trabalho), você precisará reorganizar seu tempo pra isso.
   

4. Incorpore rituais diários: comece sua prática criativa com um ritual, como uma meditação curtinha, um chá ou café, alongamento, ouvir música ou arrumar sua mesa para sinalizar ao seu cérebro que é hora de criar. Mas ó: muita atenção aqui! O nosso cérebro procrastinador vai nos dizer que é preciso passar o caderno a limpo toda vez que for trabalhar! Que o quarto precisa de uma faxina pesada antes de escrever. Ou que as pastas do computador precisam ser totalmente organizadas antes de começar a editar aquele vídeo. Fique atenta e não deixe o ritual em si comer o tempo do trabalho. 5 minutinhos é o suficiente pra entrar no clima.
   

5. Crie um espaço de trabalho dedicado: reserve uma área específica para sua prática criativa. Faça com que ela seja inspiradora e livre de distrações. E sim, se você precisar colocar uma mesa de plástico no canto do quarto, tá tudo bem. Esse é o seu espaço criativo e o que você dá conta de ter agora. É lá que ficam seus materiais de trabalho, seu caderninho, suas canetas coloridas, aquele incenso, tintas, computador e o que mais você usar. Esse é o seu metro quadrado mágico.
   

6. Divida tarefas em partes gerenciáveis: se você sentar pra escrever um livro, o peso das páginas pode te dirimir. Agora, sentar pra escrever um capítulo em uma semana ou um mês já se torna uma tarefa mais possível, né? Divida projetos maiores em tarefas menores e mais gerenciáveis. Foque em completar uma tarefa de cada vez para evitar sentir-se sobrecarregado e vá se reenergizando a cada partezinha concluída.
   

7. Limite as distrações: desative notificações, feche abas desnecessárias, deixe o celular no modo avião e crie um ambiente focado. Isso é essencial pra sua bolha! Use ferramentas como bloqueio de tempo ou a técnica Pomodoro para manter o foco. No momento que você se senta pra escrever, isso é o mais importante. O mundo tentará te convencer que existem coisas mais importantes a serem feitas. O seu trabalho é continuar com a bunda na cadeira, pelo tempo que se propôs. Não facilite pro inimigo.
   

8. Estabeleça e comunique limites e necessidades: comunique a importância da sua bolha criativa para a família, amigos e colegas de trabalho. E estabeleça limites para protegê-la. Isso significa combinar com o maridão que no sábado pela manhã ele leva as crianças pra tomar café fora; ou que o fone de ouvido deve ser respeitado no seu trabalho; ou que a porta do quarto fica fechada até que você saia. Aprenda a dizer não para interrupções durante suas sessões criativas.
   

9. Faça pausas: incorpore pausas regulares para descansar e recarregar. Pausas curtas podem aumentar a criatividade e prevenir o esgotamento. Saia da mesa, dê 10 pulinhos, tome um banho ou faça uma caminhada. A criatividade também acontece nas pausas, você não resolverá o mundo ficando sentada 4 a 6 horas seguidas na frente do computador.
   

10. Priorize o autocuidado e a autocompaixão: uma coisa é certa, você vai se maltratar por não estar fazendo tanto quanto imaginou ou a culpa vai bater naquele dia em que você pular a sua bolha. Seja gentil consigo mesma, se você perder um dia ou tiver dificuldades com a consistência. Trate-se com a mesma compreensão que você ofereceria a um amigo. É mais fácil retomar o trabalho criativo se você falar palavras de incentivo pra si mesma. Repita: amanhã será diferente.
    

11. Acompanhe e celebre seu progresso: nada mais gostosinho do que sentir que estamos avançando. Que hoje estamos mais perto dos nossos sonhos criativos do que antes. Pra isso, não só reconheça como se parabenize pelo seu progresso. E reconheça pequenos passos como importantes, comemorando pequenas vitórias. Mantenha um diário ou registro do seu trabalho criativo. Acompanhar o progresso pode fornecer insights e motivação ao longo do tempo.
    

12. Mantenha-se flexível: embora a consistência seja importante, permita flexibilidade na sua prática criativa. Adapte-se às mudanças na sua vida e esteja aberto a ajustar sua rotina conforme necessário. Só há uma certeza: as coisas serão diferentes do que você planejou e você sentirá que perdeu o controle. Um filho fica doente, um projeto que estava morno começa a esquentar, o chefe pede um relatório em cima da hora ou o que mais a realidade puder nos apresentar. A rigidez só vai te fazer desistir do projeto ou achar que você não está fazendo o suficiente. A flexibilidade te ajudará a encontrar soluções e novas propostas pro que aparecer. Faça dela a sua aliada!

E, aí, curtiu? Faz sentido pra você? Me fala, nos comentários, o que você planeja criar ativando a sua bolha criativa?

Beijos criativos,
Rafaela Cappai