Nessa edição: como lidar com os julgamentos de familiares e amigos sobre suas escolhas + um passo a passo prático para conversas + uma carta exemplo + como posso te ajudar!
Pessoas curiosas sobre muitos assuntos diferentes geralmente são levadas a se sentir como se lhes faltassem propósito e disciplina. Fazem-nas acreditar que há algo de errado com elas.
Nessa edição você vai encontrar...
Cansada de ouvir que você não para quieta ou que precisa de foco? Nesta edição, transformamos a pressão familiar em pontes de diálogo. Descubra a carta e o guia prático, baseados na Comunicação Não Violenta, para que sua multipotencialidade seja vista e celebrada. E não julgada.
Você tem a impressão que sua família não te apoia em nenhum projeto? Que julga suas escolhas e costuma dizer que você deveria escolher uma coisa só? Você acha que as pessoas ao seu redor não confiam no seu potencial? Tem a impressão que, por mais que se esforce pra mostrar o seu valor, eles sempre falam pra você buscar outro caminho? Sei como isso dói. A gente queria encontrar suporte naqueles que mais amamos e nem sempre rola. Falei sobre isso aqui.
Basicamente, todos nós, artistas, criativos e multipotenciais, passamos por momentos assim na vida. Um dos grandes desafios na nossa trajetória é a relação com a família. É claro que existe todo o tipo de família e relação (e se você tem uma família totalmente disfuncional onde todas as pontes já foram queimadas, pode ignorar esses conselhos), mas, tendo a pensar que, na maioria das vezes, apesar do julgamento, há amor e um genuíno desejo que você obtenha sucesso.
O que a gente precisa lembrar é vivemos em um mundo em que esse perfil de trabalho (arte, criatividade e multipotencialidade) ainda é pouco valorizado. E, mais do que isso, que todos fomos educados pra pensar que é uma espécie de desvio de rota. Todo mundo tem uma carreira linear, menos você. No fundo, eles têm medo e querem te proteger, já pensou nisso?
Quando há espaço (e interesse da sua parte), podemos estender uma ponte pra conversa, abrir nossos corações e pedir apoio. Converse com pais e mães, parceiros de vida, amigos, namorados etc e, se, mesmo assim, sentir que não adiantou, daí você lava as mãos e tenta seguir o seu caminho, criando também uma rede de suporte, fora desses ambientes (isso é importante, de qualquer maneira).
Mostre pra essas pessoas como você gostaria que elas fizessem parte dos seus planos. Diga o que você espera delas. Quando você faz isso, você as integra ao seu sonho, o que diminui a resistência e torna tudo mais fácil. Quem sabe, assim, elas não se tornem aliadas na sua jornada criativa e uma parte ativa dos seus planos?
Por isso, hoje criei um guia prático para você que quer dar esse passo! Simbora?
O passo a passo cuidadoso para conversar com familiares e amigos (se você sentir que há abertura), sob a luz da Comunicação Não Violenta.
1. Valide a preocupação antes de se defender (a ponte da empatia).
Princípio: reconhecer a necessidade do outro.
Ação prática: quando um familiar expressar uma crítica, tipo “Você não vai parar quieta?”, respire fundo e comece reconhecendo a emoção ou a necessidade por trás da fala dele. Isso desarma o conflito e cria uma ponte… Ao fazer isso, você mostra que vê o amor e o cuidado deles, mesmo que a forma de expressar isso seja dolorosa para você.
Eu entendo que quando você me pergunta isso está expressando sua preocupação genuína com a minha segurança e estabilidade. Eu valorizo muito o seu cuidado.
2. Fale em “Eu” e Não em “Você” (a linguagem do sentimento).
Princípio: expressar sentimentos, não julgamentos.
Ação prática: evite frases que acusem, tipo “Você me deixa triste” e foque em como a sua necessidade não atendida gera um sentimento em você. Isso tira o foco da culpa e o coloca na conexão.
Em vez de: "Você me critica toda vez que mudo de projeto." Use: "Quando ouço o comentário sobre 'só mais uma fase', eu me sinto desencorajada, pois a minha necessidade de reconhecimento e apoio não está sendo atendida no momento.
3. Articule a coerência na inconstância (a necessidade de autenticidade).
Princípio: conectar o comportamento à necessidade.
Ação prática: não se limite a defender suas escolhas; explique a necessidade profunda que a criatividade/multipotencialidade satisfaz em você (a autenticidade, a expressão, a liberdade, a curiosidade). Transforme a "falta de foco" em "busca por significado e aprendizado em diferentes áreas".
Para mim, não é falta de foco, mas sim a busca pela minha autenticidade. Minha alma precisa dessa diversidade para se sentir completa e produtiva. É a minha forma de buscar sentido.
4. Transforme críticas em perguntas de diálogo (o pedido concreto).
Princípio: fazer pedidos claros e positivos.
Ação prática: use perguntas para reverter a pressão. Quando sentir a crítica vindo, interrompa gentilmente o padrão e faça um dos seus pedidos.
“Você deveria focar em uma coisa só." Responda: "Eu entendo. Mas, em vez de me dar esse conselho, você poderia me perguntar: “O que você aprendeu com a experiência anterior que vai te ajudar agora?” Eu adoraria te mostrar a conexão entre meus projetos e qual é o plano maior que tenho mente.
5. Crie um “pacto de confiança” (o denominador comum)
Princípio: buscar uma estratégia que atenda às necessidades de todos.
Ação prática: proponha um acordo de longo prazo. Reconheça que a estabilidade sugerida é importante, mas peça que eles confiem no seu processo. Isso estabelece um limite assertivo e mantém o vínculo.
Eu sei que a minha forma de trabalhar pode parecer arriscada para você, mas eu peço um voto de confiança no meu processo. O que eu te peço é que, por um tempo, você confie que eu estou cuidando da minha vida com responsabilidade. Se eu precisar de ajuda, serei a primeiro a pedir. Até lá, meu pedido é apenas por apoio.
Um exemplo da carta/e-mail que você pode mandar, caso sinta mais segurança nessa forma de diálogo.
Querido familiar/amigo/parceiro/colega…
Escrevo esta carta com a intenção de abrir um espaço de diálogo e compreensão entre nós, movido por um profundo desejo de conexão e clareza.
Tenho notado que, quando compartilho minhas novas paixões, projetos ou a decisão de estudar uma nova área, percebo uma certa preocupação ou confusão em suas palavras ou expressões (coloque aqui os seus exemplos), como “Você não vai parar quieta?”, “Isso é só mais uma fase?”, ou “Quando você vai ter uma carreira de verdade?”. Em momentos como esses, sinto que a energia da conversa se torna tensa e o foco se desvia da alegria do compartilhamento para a incerteza do futuro.
Ao ouvir esses comentários, eu me sinto, por vezes, desencorajada, isolada e até mesmo triste. Há uma ponta de vergonha por não me encaixar no que parece ser o "caminho esperado" e uma frustração por não conseguir transmitir a imensa vitalidade e o propósito que encontro em cada novo aprendizado.
Por trás de minhas múltiplas escolhas e de sua aparente preocupação, acredito que ambos compartilhamos necessidades humanas essenciais.
Eu, como pessoa criativa e multipotencial, tenho a profunda necessidade de autenticidade e expressão. A minha alma não se satisfaz com uma única paisagem; ela anseia por explorar o mundo em todas as suas cores e texturas. Preciso de liberdade para seguir a curiosidade que me move e de reconhecimento de que a minha forma de viver e trabalhar, embora diferente, é válida e rica.
E vejo que, talvez, a sua preocupação nasça de uma necessidade genuína de segurança, estabilidade e previsibilidade para aqueles que você ama. Sei que o seu coração deseja o meu bem-estar e teme que a minha constante mudança possa me levar a um lugar de dificuldade ou fracasso.
De minha parte, quero te tranquilizar dizendo que reconheço a complexidade e os desafios inerentes a essa minha escolha. Estou ciente de que a curiosidade infinita precisa ser conciliada com a construção de uma carreira sustentável a longo prazo. Não se trata de uma fuga irresponsável, mas sim de uma busca ativa por um modelo que me permita florescer em todas as minhas versões, mantendo a estabilidade e o bem-estar que tanto você deseja para mim. Estou aprendendo a tecer os fios das minhas diversas habilidades em um único tecido forte e duradouro.
Por isso, em vez de tentar te convencer ou me defender, eu gostaria de fazer um pedido, um convite para construirmos uma ponte entre nossos mundos. Quem sabe, na próxima vez que eu trouxer uma novidade, você possa pausar o impulso de julgar ou aconselhar e, em vez disso, me perguntar:
- O que te encanta nessa nova área? (para compartilharmos a celebração).
- O que você aprendeu com a experiência anterior que vai te ajudar agora? (para que você veja a conexão e o crescimento).
- Como posso te apoiar neste novo caminho, mesmo que eu não o compreenda totalmente? (para que eu sinta o seu apoio).
- Qual é o seu objetivo com esse novo aprendizado (pra que você entenda quando for apenas uma exploração ou quando fizer parte de um plano maior de carreira).
Meu pedido é por escuta empática, por um olhar que veja a coerência na minha aparente inconstância e por um voto de confiança no meu processo. Não estou pedindo que você mude sua visão de mundo, mas sim que abra um pequeno espaço para a minha, reconhecendo que a minha felicidade reside na diversidade e explorações.
Com todo o meu amor e a esperança de um diálogo mais leve e profundo.
Com carinho,
Alguns conteúdos que você pode compartilhar com eles, caso sinta haver espaço para aprender mais sobre você e suas escolhas.
Artigo O Poder dos Generalistas, da Fast Company, uma revista renomada sobre inovação.
Palestra da Emilie Wapnick, explicando porque nem todo mundo vai encontrar um só chamado na vida (tem legenda em português).
Artigo do Futuro das Coisas, sobre a era da identidade profissional fluida.
Enfim, espero, de verdade, que esse conteúdo te ajude a construir essas pontes e estou aqui para te apoiar no desenvolvimento da sua criatividade/multipotencialidade.
Como posso te apoiar nesse momento?
Se estiver precisando de uma rede potente que apoie sua criatividade, vem pro Seja Um Canivete Suíço!
Psiu 1: caso você use esse conteúdo para iniciar conversas, volta aqui pra me contar? Seria muito importante saber como as coisas se desenvolveram por aí,
Psiu 2: essa mesma estrutura de conversa/carta pode ser usada para “defender” sua escolha de trabalhar com arte/criatividade, que também recebe um tantão de julgamentos, né?
Psiu 3: alguém de Pelotas ou Região Sul por aí? Estarei na área semana que vem! Bora?
Criatividade e coragem!
Rafaela



