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  • Sua identidade criativa é alavanca para desbloquear a própria potência.

Sua identidade criativa é alavanca para desbloquear a própria potência.

E a expressão criativa é a ponte.

Nessa edição, em 4 minutos: o despertar criativo em 3 atos, com diagnóstico.

“Várias pessoas que estão deprimidas estão sofrendo, acredito eu, de criatividade bloqueada.”

Patrick Califa

Tenho falado bastante aqui sobre esse tal despertar criativo, porque sinto que a gente fala (e ensina) pouco sobre isso, apesar de ser um tema com um potencial gigantesco de ajudar muita gente. E também porque estou vivendo o meu próprio processo nesse momento, um pouco mais avançada no joguinho (segurando bandeirinha e lanterna na frente) e pensando como eu poderia ajudar você, que me lê aí do outro lado, caso talvez também esteja nesse limbo.

Primeiro ato: reconhecer onde se está.

O primeiro passo do despertar criativo talvez seja, exatamente, identificar que você está nesse lugar de indefinição, no piloto automático, um vácuo, parada no tempo (às vezes até sofrendo com uma depressão ou algo do tipo).

Nesse lugar-não-lugar, existe uma espécie de perda de identidade, de não reconhecimento de quem a gente é. A gente já não é mais quem foi… mas também não construiu suficientemente essa outra “coisa” que somos. Estamos no meio do caminho. A gente se perdeu (o que faz parte do processo chamado vida), mas ainda não conseguiu se reencontrar ou se reconstruir.

Pensa comigo: se a gente consegue identificar que está no buraco, talvez fique mais fácil encontrar uma saída, não acha? Construir uma escada? Cavar mais fundo pra sair do outro lado? Gritar por socorro? Agora, se a gente acreditar que essa é uma situação irreversível, unicamente nossa, um rasgo perpétuo no destino que imaginamos pra nós mesmas, tende a se afundar ainda mais.

E, observando minha vida e ouvindo ~ diariamente ~ pessoas que criam, eu posso afirmar que vamos, sim, entrar e sair desses invernos algumas boas vezes. Mesmo criadores mais maduros. Alguns em buracos mais fundos, outros em covas mais rasas, mas, vez ou outra, cairemos. E, talvez, nós - artistas e criativos por opção - vamos cair mais vezes.

Reconhecer que todos passaremos por esse lugar, algumas boas vezes ao longo da vida, nos tira aquela sensação de que somos únicos no nosso sofrimento. Isso universaliza a nossa dor e, de alguma maneira, o peso se divide entre outras pessoas, até mesmo aquelas que não conhecemos. Você não está sozinha. Nem quebrada ou com defeito. Você só está vivendo. E, especialmente, em 2024.  

Essa é a dança da vida: de dar mais do que podemos e precisar de um tempo para nos recuperarmos. De seguir planos que não são nossos, e perder a força de ser a gente mesmo. Assumir papéis que não nos cabem, e esquecer qual é o nosso. Gastar mais energia do que temos e ficarmos sem nadinha para dar. Aprofundar tanto em um sonho e esquecer dos outros. Acho que, ao amadurecer, essa dança tende a ficar mais suave e a não mais chacoalhar tanto a gente de um lado pro outro… mas a vida continuará nos chamando pra dançar.

Então, hoje, pra começar, eu queria te ajudar nesse reconhecimento. Talvez você leia meu e-mail e perceba, ao contrário, que está em um momento de subida ou no ápice da sua criatividade. E que bom! Aproveita que é gostoso demais da conta! Mas talvez você esteja nesse momento antes do despertar e reconhecê-lo pode te dar forças pra sair.

Como saber se estou num limbo criativo (marque com quantas afirmações você se identifica)?

  • Você não se reconhece mais e tem dificuldades até mesmo de saber o que quer daqui para frente.

  • Você engatou um piloto automático e tem vivido a vida de uma maneira mais robotizada, sem entusiasmo.

  • Sua autoestima está abalada e você sente que não tem o que é necessário pra criar ou ser você mesma.

  • Você tem dificuldade de planejar o futuro e sente que perdeu a noção do tempo. Passou rápido demais.

  • Você sente incerteza e insegurança em relação ao que está por vir. O medo é uma constante.

  • Você sente uma baixa de energia, como se a sua bateria estivesse no fim.

  • Você parou de sonhar e de investir em ideias e projetos.

  • Sua visão de mundo se estreitou e você não enxerga muitas saídas para os desafios que está vivendo agora.

  • Você sente apatia e cinismo em relação ao mundo.

  • Você sabe que quer sair desse lugar.

Pode ser que você se reconheça em alguns pontos, pode ser que em todos. Mas se estiver nesse limbo, entenderá exatamente o que estou falando: a gente sente na pele.

E, daí, pode ser que você diga: “beleza, Rafa, tô nesse lugar mesmo, reconheço. Mas quero sair. O que fazer agora?”

Segundo ato: reconhecer sua identidade.

Como alguém que veio do futuro, eu posso te dizer: tem saída! O túnel se alarga enquanto a gente caminha… Nossa presença se fortalece, na medida em que a gente se reconhece.

Mas ó: não tô sugerindo que um “simples” processo de despertar criativo pode tirar uma pessoa de uma depressão profunda (até porque depressão precisa realmente de intervenção clínica)… mas também sei da potência da criação e da criatividade para impulsionar momentos como esses e auxiliar nesse despertar. E isso, a gente não pode ignorar. Precisa usar!

Eu acredito, que não há nada mais potente do que a criatividade pra devolver o viço da autenticidade, nos fazer nos sentir vivas, inteiras, presentes e potentes. Ao reconhecer nossa identidade, a gente ocupa o próprio corpo e enraiza na nossa essência. 

Então, nosso trabalho, após reconhecermos onde estamos, é nos lembrar de quem somos. O que gostamos, o que já vivemos, os sonhos que nos habitam, as referências que nos alimentam, os desafios que nos incomodam, as ideias que nos instigam, os projetos que nos chamam. Alguns exemplos de lugares onde você pode buscar mais de si mesma:

Sua personalidade

Seus sonhos

Suas ideias

Seus desafios

Seus defeitos

Suas habilidades

Seus dons e talentos

Seus propósitos

Suas estranhezas

Suas curiosidades

Sua rede

Suas hashtags

Sua infância

Seus desejos

Suas referências

Seus valores

Sua história

Sua trajetória profissional

Suas causas

Suas paixões

Suas ferramentas

Seus conhecimentos

Sua multipotencialidade

Seus erros

Seus medos

Suas criações

E em muitos outros lugares…

“O contrário da depressão é a expressão. O que sai de você não te adoece. O que fica, sim.”

Edith Eger

Terceiro ato: colocar pra fora.

Daí, chega a hora de se expressar a partir de quem você é. E usar tudo isso para criar coisas, aprender coisas, viver coisas… Criar é medicina. 
E criar, a partir da própria identidade, é se curar usando um recurso próprio infinito. Falei mais sobre isso nesse vídeo aqui.

Esse é o trabalho!

E, lá, do outro lado da expressão criativa, está você e sua potência. Mesmo que você já crie há muitos anos, tem sempre uma nova skin pra desbloquear, numa nova versão…

A que não apenas pensa nas ideias, mas a que escolhe uma pra desembolar;
A que não apenas pensa em aprender uma coisa nova, mas a que aprende;
A que não apenas sonha em mudar de país, mas a que muda;
A que não apenas pensa em empreender, mas a que empreende; 
A que não apenas se imagina vestindo algo diferente, mas a que veste; 
A que não apenas deseja criar conteúdos, mas a que cria; 
A que não apenas sonha em escrever um livro, mas a que escreve;
A que não apenas fantasia em inventar um produto, mas a que inventa;
A que não apenas pensa em viajar pra um país inusitado, mas a que viaja; 
A que não apenas anseia em andar de bicicleta, mas a que anda;
A que não apenas pensa em mudar de carreira, mas a que muda; 
A que não apenas aspira criar, mas a que cria! 

Lembra disso: expressão criativa é verbo. E precisa ser conjugado.

Eu crio.
Tu crias.
Ela cria.
Nós criamos.
Vós criais.
Elas criam.

Eu, como mentora de pessoas criativas, já testemunhei esse processo um zilhão de vezes, com criadoras novatas ou experientes. E, mesmo assim, não posso afirmar o que você vai encontrar do lado de lá. Cada uma de nós encontra um tesouro diferente. Mas sei, com toda a certeza desse mundo, no profundo das minhas células, como se isso fosse uma lei universal, que a sua potência está lá. E se você se propõe a passar pelo túnel e continuar caminhando, você a encontra.

A expressão criativa é a ponte pra chegar na sua potência.

Psiu 1: deixa seu comentário pra mim? Me conta se te tocou, se tem alguma dúvida ou pergunta, se quer deixar alguma dica ou sugestão de aprofundamento sobre o tema. O melhor dessa newsletter está no potencial de troca dessa comunidade.

Psiu 2: lembrando que, se você está se sentindo assim faz tempo e esse limbo tá pesado, procure ajuda especializada. Pedir ajuda também é um jeito de recomeçar!

Espero que essa edição tenha te dados mais coragem pra atravessar o túnel.

Beijos,

Rafaela Cappai

Imagem da capa por Karthik Srinivas.

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