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Um passo a passo prático (fora da caixa) para lidar com a resistência e a procrastinação.

O medo está no corpo.

Nessa edição, em 5 minutos: novidades dos meus próximos passos + como acontece a resistência e a procrastinação + uma nova abordagem + passo a passo prático.

A procrastinação não é preguiça. É medo.
Chame-a pelo nome correto e se perdoe.

Julia Cameron

Hoje, eu quero falar d’ELA! Aquela que não nomeamos (mas que devíamos). A inimiga invisível e soberana da criatividade! E, como ELA está por aqui, exatamente nesse momento, tentando me impedir de caminhar o caminho que eu mesma planejei: lançar o meu próximo curso. Talvez ela esteja por aí também… então, segue o fio... e vem ver como eu e você podemos enfrentar essa monstrona!

Talvez você tenha chegado aqui há pouco. Mas, talvez, você já esteja aqui há tempos e vem acompanhando o meu movimento de dar mais vazão a uma partezinha de mim que ficou meio esquecida nos últimos anos: minha porção artista/criadora. Alguém que cria, que fala de criação e que continua ajudando outras pessoas a criarem. 

Acontece que, até o ano passado, os meus maiores movimentos profissionais estavam canalizados na Espaçonave (escola e metodologia para empreendedoras criativas), que fundei, em 2010. E, na época, eu sentia (por diversos motivos) que não havia espaço para expressar outras coisas para além do que essa iniciativa me permitia. Cheguei a falar desse movimento aqui… 

De lá pra cá, em pouco mais de 1 ano, muita coisa já mudou: já entendi que a Espaçonave não vai, de fato, acabar, mas sim mudar (falarei disso mais adiante); já servi minhas alunas em um último ano incrível da comunidade Galáxya; já retornei aos palcos, no teatro; já comecei a sentir minha intuição me puxando para novos caminhos… e, semana passada, coloquei essa newsletter no ar! Yay! Beijinho no ombro! Foi importante. Senti que estou me movimentando pra cumprir a promessa que fiz pra mim mesma.

E, daí, que chegou a hora do meu próximo passo: lançar meu primeiro produto falando de criatividade… E, eis, que ELA aparece! ELA, A RESISTÊNCIA, em caixa alta mesmo! 

E se você não faz ideia do que é a resistência, esse conteúdo aqui pode te esclarecer.

E, olha, talvez você se identifique porque esteja vivendo (ou já viveu) algo parecido. A verdade é que todo mundo que cria vive a resistência (em menor ou maior grau). Não importa o quão incrível essa pessoa, ou suas criações, sejam.

Funciona, mais ou menos, assim: uma mini-tragédia em 4 atos

  1. Você tem uma vontade, uma ideia, um desejo criativo genuíno, desses que ecoam da sua alma. 

  2. Você se decide: agora vai! Promete investir tempo e energia na ideia. 

  3. Você começa a se organizar e se movimentar para criar. 

  4. E, ao primeiro movimento, ELA bate à sua porta. Sintomas tomam conta do seu corpo: procrastinação, ansiedade, palpitações, apatia, dispersão, falta de foco... Você arruma tempo pra tudo, menos isso. Você arruma a casa, assa um pão (foi o meu caso!), organiza as gavetas, mas não consegue avançar na ideia que te enche de tesão.  

Esse mesmo processo já aconteceu comigo um milhão de vezes. Pra escrever livro; pra criar palestra; pra começar uma atividade artística nova; pra começar a produzir conteúdo. E, também, já sou uma criativa madura o suficiente pra saber que isso continuará acontecendo, outro milhão de vezes. Não tem jeito. Essas são as regras do jogo: 

  • A resistência é universal. 

  • Quanto maior o chamado, maior a resistência.

  • Ela continuará tentando...  

Pois bem… até um tempo atrás eu lidava com isso de um jeito bem peculiar. Conversando (aka brigando) com a minha mente, fazendo planos inflexíveis e cumprindo-os na base do fórceps. Feito um trator: ia lá e fazia. Em algum momento, conseguia passar por cima da resistência, desrespeitava todos os meus limites e me machucava no processo.

E quer saber? Na mesma intensidade e na mesma medida, eu era catapultada 5 passos pra trás. Seja por doença, autosabotagem ou algo inesperado que pintava. E voltava pra um lugar de paralisia ainda maior. Lança livro em um mês, no seguinte se sente burnoutada. Não sei dizer quantas vezes acelerei e estacionei, justamente por causa d’ELA. Alguém mais? E, olha: a ciência explica esse fenômeno (mas podemos falar disso em outra edição, se você quiser → comente!).

Desde 2019, eu tenho estudado e praticado uma abordagem diferente pra lidar com as minhas emoções. Uma abordagem chamada Experiência Somática, criada por Peter Levine, que fala sobre como nosso corpo, mais especificamente nosso Sistema Nervoso Autônomo (aquele que toma as decisões involuntárias pra gente), acaba ditando grande parte do nosso comportamento. 

E, mesmo a gente querendo muito fazer uma coisa, se ele “sentir” que rola risco, mandará medo, paralisia, falta de foco, autosabotagem, apatia, energia de sobrevivência e muitos outros ingredientes que impactam nossa maneira de viver (e de criar!). A resistência e a procrastinação fazem parte desse time.

Parafraseando a Sarah Baldwin (uma das especialistas nesse tema, com quem tenho estudado), tentarei simplificar pra explicar (mas lembra que, na prática, é tudo bem mais complexo do que isso):  

  1. A função primária do Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é nos proteger. 

  2. Ele armazena uma espécie de “base de dados” de tudo aquilo que já vivemos até hoje, inclusive nossos traumas. 

  3. A cada nova vivência, ele faz um escaneamento ultra rápido da situação em questão.

  4. E a classifica como perigosa ou não, em nível inconsciente. 

  5. A partir daí, ele usa todas as “ferramentas” do corpo para “moldar” nosso comportamento e evitar o risco.

  6. E se quisermos trabalhar com ele, na direção dos nossos objetivos, precisamos ir pro corpo, usar a linguagem que ele entende. Não adianta apenas quebrar as crenças limitantes em um nível intelectual. A saída é ir pra dentro!

Pois, ontem, aconteceu de novo. E algo aparentemente simples, como sentar para criar o meu próximo curso, se torna um grande perigo.

Eu havia acabado de organizar e planejar todas as tarefas no Trello (como faço sempre, no início de um projeto) e sentei pra, de fato, criar. E, pimba: passei o dia evitando a tarefa, num bololô emocional, com muita energia, mas extremamenmte desfocada e dispersa. Até pão eu fiz!  

Saldo do dia: um projeto planejado e um pão sem glúten assado.

Mais ou menos assim:

POV: euzinha sento pra criar…

Meu Sistema Nervoso Autônomo (imagine aquele amigo gay super protetor que te fala umas verdades de vez em quando):

“Nãnãnãnãnão, senhora! Já estivemos aqui antes. E sabemos que a senhora não lida bem com projetos. A senhora irá ultrapassar seus limites. Irá se machucar. Outro burnout está logo ali na esquina. Isso sem falar na exposição. O que as pessoas vão achar disso? Você não está preparada pra ser cancelada. E quem é você pra falar de criatividade? E eu nem falei da possibilidade de dar errado. E na possibilidade de dar certo, então? Sucesso = risco, já sabemos! A senhora fica aí, exatamente onde está e não deverá dar nem um único passinho adiante. É perigoso. Se aquiete. vai fazer um pão!” 

E, daí, eu que já estou escaldada, pedi ajuda, como tenho aprendido a fazer:

O poder de uma rede de suporte.

Renata Cappai é prima, amiga e especialista no tema. E foi quem me apresentou a Experiência Somática, mudando a minha vida completamente!

E ela me mandou um passo a passo poderoso (nem por isso fácil) para gente tentar comunicar pro nosso corpo e nosso SNA que estamos bem, conscientes e acreditamos que esse próximo passo é seguro. Pra regular. Diminuir o medo, canalizar energia na direção certa e gerar movimento na direção dos nossos desejos. E, eu que não sou boba, sistematizei esse passo a passo abaixo, pra você colocar em prática aí também. Spoiler: funcionou!

Então, vamos lá: um passo a passo prático para investigar o medo e mover a resistência, na direção de criar! Ou, como lidar com a resistência e a procrastinação, sob o ponto de vista do Sistema Nervoso Autônomo:

Passo a passo:

Meu exemplo (pra te ajudar aí no seu):

1. Reconheça que toda procrastinação é medo e que ele mora no corpo. É preciso ir pra lá.

Ok, mais do que de acordo. 

2. Se pergunte: medo de quê exatamente (pode responder em voz alta ou escrever num caderno).  

- Medo do sucesso.

- Medo do fracasso.

- Medo de não conseguir fazer essa “transição”.

- Medo do que as pessoas vão dizer.

- Medo de não dar conta do lançamento do curso.

- Medo de gerar muito stress pra mim mesma.

- Medo de reviver um burnout.  

3. Reserve alguns minutinhos pra fazer um escaneamento e Ir pro corpo pra entender como ele está nesse momento: sem energia ou cheio de energia? Que reações físicas você percebe?

No meu caso, eu estava cheia de energia. Um certo aperto no peito, ansiedade, mãos suando, dificuldade de focar, dispersão, muito movimento…

4. Continue no corpo apenas observando o que está sentindo, sem julgar, forçar ou direcionar. Veja pra onde o seu corpo te leva. E o que acontece quando você fica por lá? Continue focando nas sensações físicas. Importante: se você não tem costume de colocar sua atenção no corpo, vai ser mais difícil. Insista, mas com delicadeza e cuidado consigo mesma.

A sensação ficou mais forte no início. Após uns 5 minutos foi ficando mais fraca, foi se dispersando. A ansiedade diminuiu. Acredito que a emoção/sensação se movimentou, mudou. Se dissipou um pouco. Ainda está aqui, mas com menos intensidade.

5. Volte pra sua rotina e sente novamente para criar e observar se algo mudou.

Consegui avançar um pouco mais… menos paralisia.

6. Repita quantas vezes forem necessárias até sentir que a resistência e a procrastinação estão diminuindo.

Tô aqui hoje escrevendo essa edição. Acho que funcinou, né?

Enfim, espero que curta e, se colocar em prática, volte aqui pra me contar como foi? Ou, se tiver dúvidas, também pode trazer nos comentários.

Isso tudo pra dizer pra gente mesma, caso também seja o seu caso: no passado, eu já me frustrei muito sem entender exatamente porque procrastinava tanto. Porque todo mundo “parece” que consegue seguir com seus sonhos, com facilidade, sem se boicotar.. e eu tô aqui, dando 5 passos pra frente e três pra trás. Encontrando o quebra mola da resistência a cada acelerada. Sim, eu sei que a grama do vizinho é mais verde…

Mas quer saber: hoje sei que meu corpo e meu SNA estão aqui apenas para me proteger. Cuidar de mim! E que tenho que mostrar, gentilmente, o caminho que desejo seguir. Falando a língua do corpo, que é o que ele entende. Com coragem, sim, mas com calma também! Desbloqueando aos pouquinhos cada um desses medos e encontrando uma nova versão de mim mesma a cada nova coisa que crio. Afinal de contas, foi pra isso que viemos, né? E criar, nos ajuda exatamente nisso: a nos tornar quem, no fundo, já somos!

Avante!

Psiu 1: me conta o que achou dessa edição? Tô no início desse processo, reencontrando minha voz e brincando com formatos,… então é super importante saber…

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Psiu 2: pra te lembrar: você pode me escrever de volta ou deixar seu comentário na versão web.

Psiu 3: se quiser aprofundar ainda mais nesse tema do Sistema Nervoso Autônomo recomendo, claro, o perfil da Renata (em breve ela abrirá as portas para uma experiência prática coletiva), além desse outro conteúdo que gravamos juntas.

Espero que esse conteúdo tenha te ajudado a mover as coisas aí dentro.

Beijos, também em movimento,

Rafaela Cappai

Imagem da capa por Karthik Srinivas.

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