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Rafa Responde: “Como me comprometer com a organização, se sou uma criativa-multipotencial caótica?"

Quando uma dificuldade passa a ser uma obrigação.

Nessa edição: como se tornar uma criativa-multipotencial organizada + como posso te ajudar!

A criatividade precisa da disciplina dos deadlines, da estrutura e da forma para ser livre.

David Ogilvy

Quem me vê toda organizada no Notion nem imagina que já fui a rainha do caos = até um controle remoto perdido na bolsa virou piada entre amigos. Continue lendo pra saber como transformei bagunça em método e sem matar minha criatividade.

Acho engraçado… As pessoas me veem na Internet e nos meus cursos e mentorias e comentam que sou uma pessoa muito organizada. Que pra mim deve ser fácil fazer as coisas como faço: com intenção, método, planejamento, Notion e processos muito claros. Que a organização deve ser algo natural pra mim. Acho que você precisa bater um papo com a minha mãe ou com meu marido. 😅🤣 

Bruno, inclusive, concorda que sou muito mais organizada no trabalho, do que sou na vida. #freudexplica Se você entrasse um minutinho de visita na minha mente, veria que ela é por demais caótica. Quando adolescente, meu quarto ficava entre o caos completo e a organização meticulosa, porque eu era perfeccionista e manter a organização era quase impossível. Durava só dois dias!

A principal temática das minhas brigas com os meus pais era exatamente essa: “como você dá conta de viver em um ambiente extremamente bagunçado?” Minha bolsa do balé, era o mesmo: enorme, com milhões de coisas aleatórias, inclusive sapatilhas fedidas. Um dia, uma amiga da faculdade me pediu uma caneta emprestada e tirei de dentro um controle remoto enorrrrme do meu sistema de som, que foi parar lá por engano. Virei piada na turma. 😅 

A real é que não sou organizada porque isso sempre foi natural pra mim. Sou organizada, exatamente, porque minha natureza é caótica e eu preciso disso se quiser viver a vida e o trabalho criativos que construo no dia a dia.

Hoje sei: a organização não é o oposto da criatividade. Ela é a melhor parceira. É o que dá contorno e forma pro meu caos. E, por isso mesmo, passou a ser um hábito e uma prática do dia a dia, obrigatórios. Sem a organização, eu estaria perdida.

Pois bem… esses dias, recebi uma mensagem de uma mentoranda, que está tendo dificuldades em implementar um sistema de organização e planejamento pra própria carreira. Palavras dela:

Bom dia, Rafa! Tudo bem? Resolvi fazer uma pergunta por aqui. Fico sempre muito decepcionada com a minha mente multipotencial, que acaba não dando conta de nada. Você tem alguma dica, além da terapia, para conseguir se comprometer mais com a calendarização?

Se você não sabe, calendarização é um processo que ensino para organizar sua agenda, antecipando e bloqueando coisas que você quer (ou sabe!) que precisa fazer no seu trabalho. O nome veio emprestado da minha querida Fefe Resende que, um dia, lindamente, o nomeou assim… e é uma prática que muda tudo!

Bom, esse é um tema complexo, né? Além da terapia que você já mencionou, o criativo-multipotencial precisa entender que existe todo um processo de equilíbrio de forças, entre as necessidades de organização e planejamento e essa vontade louca de sair criando. Nossa alma criativa x as necessidades práticas da vida. Essas forças vão estar aí, acredito eu, até o final dos nossos dias. E a organização e o planejamento são ferramentas pra lidar com elas.

Eu só me apego à organização, porque sei que sou criativa-caótica-multipotencial. Eu me apoio no planejamento, porque sei que o mundo lá fora é caótico. Eu só me proponho a finalizar projetos, porque sei que quero abrir novas abas (mais do que a maioria!). Entende? Nesse contexto ~ interno e externo que vivemos ~ a organização e o planejamento passam a ser obrigatórios.

Eu, por exemplo, reconheci, a partir de 2010, que precisava me organizar mais se quisesse fazer meus sonhos, projetos e criatividade decolarem. Em 2016, com o burnout, essa necessidade de organização ficou ainda mais latente e eu aprofundei mais nos métodos e processos que funcionavam pra mim e que hoje ensino. A vida (que eu queria construir) me ensinou a ser organizada.

Ou seja, qualquer mudança que queremos implementar precisa partir de um porquê forte. Uma razão emocional tão essencial que será a alavanca para essa mudança, que sabemos, não vai ser fácil. É pra lá que a gente volta, sempre que precisa se abastecer.

Na jornada com a academia, por exemplo, em muitos dos dias a gente vai porque, simplesmente se comprometeu com alguma coisa maior. A estamina tá baixíssima, mas o comprometimento com esse porquê forte (envelhecer saudável, ver os filhos crescerem, se sentir bem no espelho…) está lá.

Daí, eu te pergunto: por que você quer se comprometer com a calendarização e a organização da sua criatividade? Qual é o seu por quê? Você precisa ter uma razão emocional forte. Entender, claramente, porque você quer que isso funcione, sabe? E se apoiar nisso! E se conectar recorrentemente com essa razão! Te dou algumas:

  • Exatamente porque você é multipotencial e precisa fazer mais coisas caberem do que uma pessoa “normal”.

  • Pra não desperdiçar seu combustível criativo.

  • Pra sobrar tempo (e espaço) pro que importa.

  • Pra não virar refém do caos.

  • Pra transformar sonhos em entregas.

  • Pra diminuir stress e ansiedade e esvaziar a mente.

  • Pra conseguir dizer mais “sim” ao que te dá tesão

  • Pra transformar sua multipotencialidade em trajetória, não em labirinto.

  • Pra criar um trilho flexível, onde a intuição possa correr sem descarrilar.

  • Pra evitar burnout criativo.

  • Porque o mundo já é instável demais. Ter um plano é ter um lugar pra pisar.

  • Porque sem clareza interna, qualquer vento externo te tira da rota.

  • Porque protagonismo criativo exige direção, não só talento.

Daí, você falou em terapia e eu não posso ignorar que muitos de nós (eu, inclusa!), não conseguimos aderir a novos hábitos porque pode existir uma razão interna nos impedindo de fazer isso. Uma perda, associada a essa nova pessoinha que você está tentando construir.

Essa perda, às vezes, está lá dentro, guardadinha no seu inconsciente, sendo preciso investigar com terapia, escrita terapêutica, meditação e quaisquer outras ferramentas que sirvam pra você. Ir desenrolando os nozinhos do que o nosso cérebro e corpo não contam. Trazer à luz da consciência. Se pergunte: o que preciso abdicar para me tornar essa nova pessoa? Por que ainda não consigo? Pensa no que você vai perder se aderir à organização e planejamento. Que parte de você precisa morrer para que essa nova nasça?

Pode ser um apreço à espontaneidade, experiências passadas com processos engessados, traumas armazenados ou simplesmente medo dessa sua versão mais criativa e potente (aqui, esse aparece bastante!).

Daí, tem o trabalho de construção de hábitos propriamente dito, que é o único caminho que conheço pautado pela ciência. Você vai precisar criar essa nova sinapse no seu cérebro, esse novo caminho neural e ir fortalecendo ele, até que fique mais forte do que o antigo. Nosso cérebro consegue criar novos caminhos neurais e ele faz isso o tempo todo, aleluia! E o nome disso é neuroplasticidade.

Então, você precisa continuar tentando e confiar que isso vai ganhando força gradualmente, a cada vez que você calendariza. Essa repetição é muito importante pro cérebro, pois é ela que vai aprofundando esse novo caminho neural, até que ele se torne um hábito. Pense em um caminho no mato alto, quanto mais você passa, mais ele fica marcado. Essa frase do Brendon Burchard resume muito bem esse processo:

“Primeiro é uma intenção. Depois um comportamento. Depois um hábito. Depois uma prática. Depois uma segunda natureza. Então, é simplesmente quem você é.”

Ou seja, leva tempo, é processo e não algo que a gente faz estalando os dedos. Mas é possível: eu mesmo já vi acontecer na minha própria vida (quem diria, hein Dona Bia!?) e acompanhando milhares de pessoas em seus processos.

Outras estratégias mais criativonas que amo:

  • Criar um mantra que te lembre dessa nova versão e colocar ele visível, em todo lugar, do papel de parede do celular, até no seu banheiro ou escritório. Tipo: “calendarização é meu sobrenome!” Isso reforça o novo comportamento, a cada vez que você ver/repetir.

  • Criar um jogo visível de novos hábitos, marcando toda vez que você realizar esse comportamento. Nós, criativos, somos extra-motivados visualmente, se aproveite disso. Aqui um exemplo. Tá em inglês, mas dá pra entender.

  • Dê um nome divertido para sua nova versão (“Dona da Minha Agenda”) e assuma esse personagem sempre que for praticar o hábito. Isso ativa um lado mais lúdico e ajuda a não levar tão a sério o peso do dever.

  • Ritualizar com micro celebrações. Depois de cada vez que cumprir o hábito, crie uma pequena celebração visível, pode ser uma dancinha, acender uma vela, se dar um auto high-five... Esses micro-rituais reforçam o prazer e fixam a memória emocional.

  • Convidar amigas com a mesma necessidade pra fazer isso juntas e usar o poder do coletivo para mudanças individuais. Que delícia!

Mas ó, com essa sistematização aqui, não estou querendo simplificar esse processo, tá? Somente facilitar a compreensão. Criar novos hábitos é uma das coisas mais difíceis que existem e dá trabalho mesmo! Mas é possível! E, como te contei, a ciência tem até nome pra isso. Não desanime, continue tentando que isso, em si, já é parte do processo dessa construção. Se você está tentando, significa que já está no caminho! E conte comigo pra te apoiar nessa jornada! 😘😘

Como posso te ajudar nesse momento?

😆 Seja Um Canivete Suíço: o caminho pra construir sua versão de criativo-multipotencial mais saudável, organizada e sustentável!

Ou responda esse e-mail. Vamos conversar!

Psiu: minha amiga querida, Carol Nalon, tá com inscrições abertas para a nova turma do curso dela sobre comunicação empática e não violenta. Estarei nessa turma e recomendo de olhos fechados e coração aberto!

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